sexta-feira, 6 de novembro de 2015

TEMPORADAS: Townsend Bell na CART em 2002

Em 2002, a CART entrava em uma decadência absurda. E isso era muito evidente. A Penske, campeã em 2000 e 2001 com o franco-brasileiro Gil de Ferran, se mandou para a rival Indy Racing League. A CART havia perdido importantes etapas em Michigan e Nazareth. Uma crise se iniciou após os ataques às torres gêmeas no dia 11 de setembro de 2001. Equipes perdiam patrocínio e pilotos perdiam vagas certas.

Um dos campeonatos mais conhecidos da CART era o de "Novato do Ano", cujo o vencedor era aquele que somava mais pontos até o fim da temporada. Pilotos como Kenny Bräck (2000), Scott Dixon (2001), Nigel Mansell (1993), Alessandro Zanardi (1996), Juan Pablo Montoya (1999), Tony Kanaan (1998) e Jacques Villeneuve (1995) já ganharam o campeonato de "Novato do Ano". Naquele ano de 2002, a CART teria apenas dois novatos.

Um deles era Townsend Bell, campeão da Indy Lights, em 2001. Bell venceu 6 das 12 corridas naquele ano e derrotou pilotos como Dan Wheldon, Damien Faulkner e aquele que seria o oponente de Bell entre os novatos em 2002: o mexicano Mario Domínguez. Domínguez nunca foi muito empolgante nas categorias de base. Até o início de 2002, Domínguez tinha 1 vitória no automobilismo americano, em 1999, no oval de Homestead-Miami.

Bell, que pilotaria pela Patrick Racing, já tinha pequena experiência com os carros da CART. Afinal, competindo pela mesma Patrick, Bell apareceu em duas corridas no ano de 2001: 13º em Lausitz, Alemanha, e 12º em Rockingham, Inglaterra, ganhando 1 ponto nesta última. Por outro lado, Mario Domínguez pilotaria pela Herdez Competition, a antiga Bettenhausen Motorsports. O mexicano estrearia, de fato, em 2002. Ou seja, parecia que Townsend Bell teria um ano interessante e seria o novato do ano.

Townsend Bell nos testes de pré-temporada


A primeira etapa foi no dia 10 de março de 2002, no Parque Fundidora, em Monterrey, México. Townsend Bell teve um bom treino e garantiu a 9ª posição, a frente de pilotos como Jimmy Vasser (10º), Michael Andretti (16º) e Paul Tracy (19º). Mas a corrida foi muito diferente. No início, Bell foi otimista demais em tentar ultrapassar Kenny Bräck em um lugar difícil. Bell acertou Bräck. Jimmy Vasser e Bruno Junqueira não conseguiram desviar. Fim de prova para Bell, Vasser e Bräck. Ninguém se importou muito, afinal, Bell era um novato, tinha uma certa pressão e erros acontecem. Ainda assim, o chefe dos comissários, Wally Dallenbach, Sr., o pôs em "probation" (uma suspensão similar ao sursis da Fórmula 1: o piloto fica em observação, e caso ele faça mais besteiras, o piloto sofre uma punição)

A segunda etapa foi no dia 4 de abril de 2002, nas ruas de Long Beach, Califórnia, Estados Unidos. Townsend Bell pôs o carro na 5ª posição do grid, sendo apenas superado por Kenny Bräck (4º), Bruno Junqueira (3º), Cristiano da Matta (2º) e Jimmy Vasser (1º). Bell fazia uma corrida bem conservadora, chegando a andar em 10º. Mas na volta 57, Bell se espremeu ao tentar passar Alex Tagliani na curva da fonte. Se espremeu tanto, que causou um acidente entre os dois. Tagliani abandonou no ato, Bell levou o carro até os boxes. Alguns começaram a levantar sobrancelhas: como assim Townsend Bell deixou de ser um piloto promissor para ser um ímã de acidentes? Mas podia ficar pior?

Dia 27 de abril de 2002. Oval de Motegi, Japão. Townsend Bell largou da 10ª posição. Na volta 139, Bell, sozinho, errou a tomada da curva 3 e encheu o muro. Três corridas, três acidentes. Se fosse daquela época tal coisa, Townsend Bell podia pedir música no Fantástico.


Townsend Bell em Motegi: 3 acidentes em 3 corridas.


O acidente em Motegi


Dois de junho de 2002. Oval de Milwaukee, Wisconsin, Estados Unidos. Largando da 19ª e última posição, Bell reclamou de quebra da caixa de câmbio na volta 135. Mas não era isso, acho que ele estava com vergonha de dizer o que realmente aconteceu. Sim, ele bateu de novo! Na curva 2, quebrando as suspensões dianteira e traseira direita. Naquele momento, todo mundo esperava apenas em que volta Townsend Bell iria bater.

Uma semana depois, 9 de junho de 2002. Laguna Seca, Monterey, Califórnia, Estados Unidos. Largando de 10º, Bell se envolveu em um acidente de novo. Dessa vez ele não teve culpa. Dos 19 carros que começaram, 8 se envolveram no acidente: Adrián Fernández acertou Michel Jourdain, Jr., Townsend Bell rodou na frente de Paul Tracy, que foi parar na areia. Dario Franchitti acertou Jourdain. Max Papis parou a tempo. Jimmy Vasser acertou de leve Mario Dominguez. Apesar de estar envolvido no acidente, Bell continuou e garantiu seus primeiros pontos em 2002: 6 e um 7º lugar. Bell tomava a ponta do campeonato dos novatos: 6 a 2 contra Mario Domínguez, que conquistou esses dois pontos com um 11º em Motegi.

Laguna Seca: Primeiros pontos de Townsend Bell em 2002.


No dia 16 de junho de 2002, aconteceu a 6ª etapa, no Portland International Raceway, em Portland, Oregon, Estados Unidos. Largando em 6º, Bell surpreendeu a todos terminando em 4º (12 pontos), e o mais importante: SEM ACIDENTE! Bell dava passos largos no campeonato de novatos: 18 x 5 contra Mario Domínguez, que tinha sido o 10º e garantido mais 3 pontos.

No dia 30 de junho de 2002, a CART realizou a 7ª etapa, que aconteceu no oval do Chicago Motor Speedway, em Cicero, Illinois (Não confundir com o Chicagoland Speedway, localizado em Joliet, Illinois, que era onde a IRL corria). Largando em 17º, Bell foi o 12º, garantindo mais um ponto. Mas como não podia deixar de ser... Na volta 163, Bell acertou Michel Jourdain, Jr. na curva 1. O mexicano rodou, mas continuou, assim como Bell. Só para deixar claro aqui: Bell ainda a frente de Mario Domínguez, que chegou em 11º, ganhando mais 2 pontos: 19 x 7.

O dia 7 de julho de 2002 marcou o que foi o início do fim para Townsend Bell na CART. A categoria foi para as ruas de Toronto, Ontário, Canadá, para a 8ª etapa. Bell, que largou em 16º, fazia uma corrida normal (fora de seus padrões estabelecidos naquele ano, claro) até a volta 93. Na entrada do fechado hairpin, Bell fechou Michel Jourdain, Jr. e emparelhou com Bruno Junqueira. Houve uma colisão, e um irritadíssimo Junqueira teve que abandonar. Townsend Bell foi excluído da corrida após o acidente.

0:22

Lembra quando eu disse que Townsend Bell chegou a estar em observação após a primeira etapa? Então... Bell ganhou uma colher de chá e foi tirado da observação depois de algumas melhoras (mesmo causando ainda mais acidentes). Voltemos a Toronto. Bell foi posto em observação de novo. Agora, sem desculpa, era por tempo indeterminado.

Townsend Bell, bastante maduro, disse o seguinte:

"Eu errei. Achei que dava para passar, mas não tinha como. Wally é o chefe dos comissários, ele é quem manda. Eu concordo com sua decisão."

Wally Dallenbach, Sr. disse o seguinte:

" Townsend Bell é um piloto extremamente capaz que cometeu um erro. Espero que este período de observação o ajude a se concentrar melhor. Muitos ex-campeões da CART já ficaram em observação no início de suas estadias na CART, e Townsend Bell, que é um ex-campeão da Indy Lights, tem potencial para aprender com seus erros".

Será que ele aprendeu com seus erros? Vamos ver...

Dia 14 de julho de 2002. Aeroporto Burke Lakefront, Cleveland, Ohio, Estados Unidos.

Largando em 15º, Townsend Bell estava sob pressão. Pressão do seu chefe, Pat Patrick, que estava ficando sem paciência com ele, pressão sobre estar em observação, pressão de todos que se perguntavam em que volta Bell iria bater e quem ele iria acertar.

A largada em Cleveland sempre tinha acidentes, porque os pilotos saíam de um setor muito largo (onde colocavam mais de três carros lado a lado) para entrar um hairpin apertadíssimo. Sendo assim, muita gente saía da pista. Naquele ano não foi diferente.

Após uma largada abortada, a bandeira verde pintou na 2ª volta, e a bagunça começou. Tora Takagi acertou Jimmy Vasser. Mario Domínguez acertou Takagi. Townsend Bell acertou Domínguez. Os dois novatos, Bell e Domínguez abandonaram. Mais uma batida de Townsend Bell, mas dessa vez, ele não teve culpa e nem teve como escapar. Restou a um tristonho Townsend Bell voltar a pé para o pitlane.

O tristonho Townsend Bell volta para o pitlane depois do acidente em Cleveland


Bell disse o seguinte:

"Queríamos ficar longe de problemas na largada. Cheguei na curva em primeira marcha. Estava logo atrás de Mario Domínguez e alguma coisa deve ter acontecido porque todo mundo parou na minha frente e eu não consegui desviar."

Ele completou:

"É uma pena, mas iremos levantar depois dessa corrida. Vamos fazer alguns testes e iremos para a próxima etapa em Vancouver. Estou muito ansioso em conseguir um ótimo resultado."

Mas não teve próxima etapa em Vancouver. Não para Townsend Bell.

Foi anunciado um pouco depois da etapa de Cleveland, que Townsend Bell seria substituído pelo catalão Oriol Servià em cinco etapas (Vancouver, Mid-Ohio, Road America, Montréal e Denver). Após essas cinco corridas, Bell poderia voltar na etapa seguinte à Denver, no oval de Rockingham.

Só que Servià se saiu melhor que Bell de todas as maneiras possíveis. Abandonando em três corridas devido a problemas mecânicos, completando as outras nos pontos e o mais importante: SEM ACIDENTES!

Após Denver, Pat Patrick não tinha dúvidas: Townsend Bell foi chutado para escanteio e Oriol Servià foi efetivado.

O que aconteceu depois?

Enquanto Mario Domínguez ganhava o campeonato dos novatos, sem ter um oponente sequer, Bell corria atrás de propostas. E ele achou!

Bell foi contratado pela Arden, equipe da então Fórmula 3000 Internacional, para disputar a etapa de 2003. Naquela época, a F3000 estava em uma decadência daquelas, e a Arden dominava a categoria. Parecia boa coisa para Bell, que teria Bjorn Wirdheim como companheiro de equipe. Enquanto Wirdheim era campeão, Bell terminava em 9º, com 1 pódio (3º em Hungaroring).

Após a fraca temporada na 3000, Bell voltou aos Estados Unidos. Competindo pela Panther Racing, no lugar do esquecido Mark Taylor, Bell apareceu em 10 etapas da Indy Racing League, em 2004. Um 5º em Nashville foi seu melhor resultado.

Desde 2009 (menos em 2011), Bell compete só nas 500 milhas de Indianápolis. Seu melhor resultado foi o 4º lugar em 2009.

Nenhum comentário:

Postar um comentário