quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

TEMPORADAS: Fórmula 3000 Internacional em 1998 - Parte 6

Etapa 5: Monte Carlo - 23 de maio


A pista de Mônaco na época. A diferença é que a saída dos boxes era bem antes da Sainte Devote.


A partir de Mônaco, a categoria teria mais um piloto a menos: O norte irlandês Jonny Kane, da Redman and Bright, deixou a categoria. Faltou dinheiro. A corrida em Silverstone foi a última de Jonny Kane na Fórmula 3000. Kane, que foi o 20º naquela corrida, deixou a Europa e partiu para os Estados Unidos, onde competiu na Indy Lights em 1999 e 2000, conseguindo vitórias em Fontana (1999) e Belle Isle (2000). Após um período como piloto de testes da Arrows, Kane deixou os monopostos e migrou para os protótipos. Você que assiste o WEC, certamente já ouviu falar em Jonny Kane. Desde 2010, ele faz parte do trio da equipe Strakka Racing, da categoria LMP2, que também é composto pelo dono da equipe, o inglês Nick Leventis, e o também inglês Danny Watts (ex A1GP).


Jonny Kane (direita), ao lado de Nick Leventis e Danny Watts, seus colegas de carro na Strakka Racing. (Foto de 2013)


Voltando a Monte Carlo e a 1998...



Treino de classificação

O treino de classificação em Mônaco foi diferente em relação as outras pistas, por ser um circuito diferente dos demais. Dentre os 34 pilotos que apareceram, 26 iriam correr. Dentre os oito que não se classificaram estavam, surpreendentemente, o brasileiro Max Wilson, da Edenbridge, e o francês Soheil Ayari, da Durango. Ayari, porém, não correu porque foi banido da corrida. Durante a classificação, Ayari rodou na curva Anthony Noghes. Não deixou o carro morrer e decidiu mandar um cavalo de pau na saída da curva sem o menor pudor. Estamos falando de Mônaco, circuito bem apertado. Lógico que ia dar zebra. Kurt Mollekens, belga da KTR-Arden, sem ter para onde ir, encheu a traseira do carro do francês. Mollekens saiu de seu carro xingando Ayari de todos os nomes que ele deve ter imaginado.

A pole foi do dinamarquês Jason Watt, da Den Bla Avis. O segundo foi o alemão Nick Heidfeld, da West Competition. Aliás, Heidfeld chegou a sofrer um acidente na curva Casino. "Quick Nick" não se feriu. O terceiro foi o uruguaio Gonzalo Rodríguez, da Astromega. O quarto foi Stéphane Sarrazin, francês da Apomatox. Jamie Davies, inglês da DAMS, foi o quinto. O sexto foi o português André Couto, da Prema. Estranhou o fato de eu não ter mencionado o nome "Juan Pablo Montoya" até agora? Não se preocupe, você vai ver esse nome várias vezes nesta parte, principalmente. O colombiano, da Super Nova, largou da sétima posição, não largando na pole pela primeira vez no ano. Mas não era para Montoya largar daí. Ele teve suas três melhores voltas cassadas graças a uma bobagem sua: Montoya constantemente diminuía a velocidade no treino de classificação quando encontrava outro piloto em volta lenta ou em volta rápida. Sendo assim, Montoya tinha mais espaço e não precisaria se preocupar com o tráfego. Parecia uma boa ideia. Mas o colombiano pensou em si próprio. Vários pilotos, em volta rápida, tiveram que diminuir a velocidade, graças a essa ideia de Montoya. Mas não seria a única gracinha de Montoya no fim de semana. Apesar do seu acidente, Kurt Mollekens conseguiu o oitavo tempo. O brasileiro Bruno Junqueira, da Draco, foi o nono. O décimo foi o português Rui Águas, da Coloni. Águas chegou a ter um pequeno acidente na Anthony Noghes durante o treino. O brasileiro Marcelo Battistuzzi, da Apomatox, largou na 25ª e penúltima posição.


A corrida


A primeira de 50 voltas começou com Jason Watt mantendo a ponta. Antes da Sainte Devote, Juan Pablo Montoya passou por André Couto. Na tal curva, Montoya chegou a ficar lado a lado com Stéphane Sarrazin, mas não conseguiu fazer a ultrapassagem. Eventualmente, o colombiano ultrapassou Sarrazin na chicane depois do túnel.


Juan Pablo Montoya largou em sétimo. Não que isso fosse problema, certo?


Aí começaram os acidentes. Na 16ª volta, André Couto deu uma bela pancada na curva Tabac, quebrando a suspensão traseira direita. Enquanto André parava o carro, dava para se notar o pneu pendurado pelo braço da suspensão. Na volta seguinte, o francês Boris Derichebourg, da Super Nova, rodou no hairpin da Loews (o certo seria chamar a curva de Grand Hotel). Na volta 18, Alex Müller, alemão da Oreca, passou reto na Sainte Devote.

Juan Pablo Montoya ultrapassou Jamie Davies de forma incrível na curva do Casino. Saindo da Massenet, Davies deixou uma avenida aberta no lado de dentro. Montoya aproveitou, deixou o carro patinar, acelerou antes e deixou Davies para trás. Luis Roberto diria: "Impressionante!".

Enquanto Jason Watt passeava tranquilamente na liderança, o italiano Paolo Ruberti, da Prema, deu uma leve derrapada na Anthony Noghes. Não acertou nada e não deixou o motor morrer. Segue o jogo para o italiano!

Na volta 29, Bruno Junqueira teve que abandonar. O brasileiro errou o cálculo ao fazer a tomada da curva Tabac, Junqueira fechou o francês Cyrille Sauvage, da GP Racing. Sauvage seguiu em frente, mas Junqueira acertou o muro, perdeu o pneu traseiro direito e asa traseira.

Na mesma volta, Juan Pablo Montoya tentou ultrapassar Gonzalo Rodríguez. Tendo a audácia de tentar uma ultrapassagem por fora na chicane depois do túnel, Montoya teve que cortar caminho, já que Rodríguez não facilitou as coisas. Montoya nem quis saber de devolver a posição, já que ele cortou caminho. Rodríguez também cortou caminho, mas Montoya tinha que devolver a posição. Provavelmente ele achou que estava tudo tranquilo, porque Rodríguez cortou caminho. Mas os fiscais não pensavam assim. Montoya teve que cumprir um stop-and-go de dez segundos. O colombiano foi sem reclamar, confiante que recuperaria a posição.

Montoya voltou em 6º, atrás de Stéphane Sarrazin. Sem problemas, afinal, Montoya ultrapassou o francês de novo, e de novo na chicane depois do túnel. Ao contrário da disputa com Rodríguez, Montoya usou a linha de dentro.

A tranquilidade de Jason Watt acabou na volta 40. O dinamarquês, mesmo com uma enorme vantagem sobre Nick Heidfeld, bateu sozinho na saída da curva do Casino. Ah, Jason, essa corrida era sua!


Largou na pole e liderou a corrida tranquilamente até esborrachar o carro na saída da curva do Casino, na volta 40. É ou não é a personificação da palavra "EMPOLGOU"?


Enquanto isso, Montoya atacava novamente! O colombiano pressionava Jamie Davies. O inglês, humilhado pela ultrapassagem que tomou de Montoya na curva do Casino, não queria levar outra ultrapassagem do colombiano, que estava pegando fogo. Em duas voltas, Montoya acertou Davies duas vezes. Na primeira, nada aconteceu. Na segunda, a asa dianteira de Montoya se soltou do carro. Montoya teve que usar a ré para voltar ao traçado e perdeu um belo tempo com isso. Além disso, Montoya estava com um furo no pneu dianteiro direito. Ao invés de ir para os boxes e consertar o carro, Montoya seguiu em frente. Tentando sustentar a quarta posição, Montoya a perdeu para Sarrazin. Kurt Mollekens só conseguiu tomar a 5ª posição, porque Montoya errou na curva Grand Hotel, visto que antes disso, Montoya fechava a porta de um lado e de outro, irritando o belga, que não podia fazer nada.

Nick Heidfeld, lá na frente, estava atrás de sua primeira vitória na 3000, mas ninguém ligava (coitado), já que todos que viam a corrida, queriam saber o que aconteceria com Montoya. Sofrendo com as investidas de Gareth Rees, da Den Bla Avis, o colombiano não queria perder a sexta posição (a última que dava pontos. No caso, 1). Gareth até pareceu ter passado Montoya, mas o colombiano deixou o carro acertar o bólido do piloto galês, que deu uma estampada de traseira na Massenet. Com a suspensão quebrada, só restou a Gareth dar socos no volante.

Nick Heidfeld podia comemorar, porque a vitória era dele. Também foi a primeira vitória da West Competition na Fórmula 3000. Mesmo sem a asa dianteira e com um pneu furado, Juan Pablo Montoya chegou em sexto e conquistou um ponto.


Nick Heidfeld conquistou sua primeira vitória na Fórmula 3000, no circuito de Mônaco



Após 50 voltas:

Os 6 primeiros:

1- Nick Heidfeld - West Competition - Alemanha - 1:18:04.955
2- Gonzalo Rodríguez - Astromega - Uruguai - +3.861
3- Jamie Davies - DAMS - Reino Unido - +19.510
4- Stéphane Sarrazin - Apomatox - França - +26.607
5- Kurt Mollekens - KTR-Arden - Bélgica - +48.218
6- Juan Pablo Montoya - Super Nova - Colômbia - +01:11.560

Os brasileiros? Como já mencionei, Bruno Junqueira, da Draco, bateu na 29ª volta. Marcelo Battistuzzi, da Apomatox, abandonou na 43ª volta, com a caixa de câmbio danificada.


Classificação após 5 etapas:

1- Nick Heidfeld 25 pontos
2- Juan Pablo Montoya 21 pontos
3- Jason Watt 14 pontos
4- Kurt Mollekens 14 pontos
5- Stéphane Sarrazin 13 pontos
6- Gonzalo Rodríguez 10 pontos
7- Jamie Davies 8 pontos
8- Boris Derichebourg 5 pontos
9- Thomas Biagi 3 pontos
10- Dominik Schwager 3 pontos
11- Gareth Rees 3 pontos
12- Max Wilson 3 pontos
13- Cyrille Sauvage 2 pontos
14- André Couto 2 pontos
15- Soheil Ayari 2 pontos
16- Gastón Mazzacane 2 pontos


A próxima etapa da F3000 foi no circuito de Pau, na França. Será que Montoya continuaria com suas estripulias? E Heidfeld, continuaria empolgado? Só na próxima parte do texto é que vamos descobrir.


Aqui embaixo segue um vídeo dos melhores momentos da corrida de Mônaco. A música que toca no final do vídeo se chama "Road Rage" (uma expressão que quer dizer algo como "comportamento agressivo na estrada"), da banda galesa de rock alternativo Catatonia. Combina totalmente com o insano Juan Pablo Montoya que apareceu nas ruas de Monte Carlo naquele fim de semana. Não que isso tenha sido um caso isolado na carreira do colombiano, mas muito longe de ser só um barbeiro, afinal, Montoya veio a protagonizar grandes momentos e fazer corridas incríveis em sua carreira, mas ele passou de todos os limites naquele fim de semana.


Nenhum comentário:

Postar um comentário